sábado, 10 de maio de 2014

Como o Tatuzão se Enfiou num Buraco de Toupeira

O blog tem denunciado através do Facebook, faz algum tempo, que o tatuzão do metrô parou. Os seguidores do blog carinhosamente apelidaram o tatuzão de toupeira. Já que a imprensa tradicional não faz e a assessoria de imprensa do consórcio construtor é muda, decidimos investigar o que está acontecendo.

Após conversas com diversas pessoas envolvidas na obra e engenheiros que a acompanham, que vão ficar anônimos aqui, o blog teve contato com o geólogo Newton Carvalho, que é voluntário do Projeto de Segurança de Ipanema (PSI), no apoio técnico contra a destruição da Praça Nossa Senhora da Paz; e que também tem Projeto de Doutorado sobre a Linha 4 licitada em 1998, com apoio da líder do Consórcio Rio Barra, na época Construtora Queiroz Galvão; e ainda é autor de Projeto Conceitual Avançado sobre a Linha 4, totalmente pela rocha, desde o Centro até Realengo, passando por Zona Sul, Barra da Tijuca e Jacarepaguá, devidamente registrado no CREA-RJ, como Direito Autoral.

De acordo com as diversas pessoas, os engenheiros e o geólogo Newton Carvalho, apesar de ganhar o apelido de toupeira, o tatuzão comprado pelo Governo do Rio de Janeiro é muito bom. É o maior e mais moderno do país e custou R$ 100 milhões. O problema é que o tatuzão está fazendo uma obra de toupeira.

Em meados de Fevereiro saiu a última informação oficial da escavação do tatuzão. Nela, o Consórcio Rio Barra informava que ele havia escavado 221 metros após 54 dias de trabalho. Ou seja, em vez dos 18 metros diários, ele estava escavando cerca de apenas 4 metros diários. Neste ponto, ele ainda estava dentro de rocha.

Como o consórcio não divulgou fotos e parou de divulgar o andamento da escavação, o blog começou a questionar a obra. A primeira desculpa para o blog foi que o tatuzão estava saindo da rocha e entrando na areia e por isso, toda a frente do equipamento precisaria ser trocada, pois a lâmina de corte é diferente para cada tipo de material a ser perfurado. Para tal procedimento, uma vala seria aberta na Rua Barão da Torre. No Leblon vão fazer o mesmo procedimento, no momento que ele sair da areia e voltar para a rocha. No entanto, a troca da lâmina de corte não foi feita em Ipanema.

Se isso não foi feito em Ipanema, o que aconteceu então?
O projeto original de escavação previa que o túnel da Linha 4 teria uma profundidade de 40 metros. Em cima da hora, o projeto foi alterado para uma profundidade de apenas 12 metros, um fator bastante complicador. Explica-se: Foi encomendado na Alemanha um Tatuzão especial que é pressurizado, permite a troca da frente de solo para rocha e lança o revestimento de concreto (aduelas), entre outras coisas. Assim, ao entrar no solo arenoso e saturado de água, com bolsões de argila mole, teria que dar uma pressão na frente de escavação, para manter estável o lençol freático, não permitindo qualquer tipo de recalque no solo. Em maiores profundidades e sem a presença de bolsões de argila, fica bem possível controlar mas quando ele está muito próximo da superfície do terreno natural, como agora a 12 metros de profundidade (equivalente a um diâmetro do próprio tatuzão), esse controle fica mais problemático, pois ele ainda está na presença de bolsões de argila, podendo ocorrer em vez de recalque até mesmo "explosões do solo". Por isso fizeram injeções de jet grounding (colunas de concreto) na Barão da Torre e agora na Visconde de Pirajá, com a desculpa de reforço do solo.          

Em resumo: para evitar que os prédios fossem “sugados” para dentro do buraco do tatuzão, tiveram que concretar os túneis por onde o tatuzão vai passar.  Não foi preciso trocar a parte da frente do tatuzão, pois ele não está escavando areia; ao que parece, ele está escavando concreto.

Um detalhe interessante é que a Estação General Osório, inaugurada em 2010, tem uma profundidade de 19 metros. A segunda Estação General Osório, que está em construção, fica numa profundidade de apenas 12 metros.

Algumas questões ainda não explicadas, são levantadas pelo blog:
1) Se estão abrindo buracos em Ipanema para concretar o túnel do tatuzão, não seria mais fácil e prático abandonar o tatuzão e construir o túnel pelo método Cut and Cover? O Jet Grounding terá que ser feito até a Gávea?

2) O Tatuzão começou a escavação com cerca de 6 meses de atraso. Em vez dos 18 metros diários, escavou apenas 4 e parou de trabalhar há pelo menos 5 semanas. Como fica o cronograma para a entrega da obra?

3) Quem bateu o martelo alterando a profundidade do projeto de 40 para 12 metros? O blog recebeu algumas denúncias: uma dizia que o Governo do Estado não queria que a população andasse muito dentro das estações para evitar reclamações. Outra diz que foram estudos de demanda da Fundação Getúlio Vargas. Fato é que novos estudos foram feitos na mudança de 40 para 12 metros. Talvez tais estudos foram incompletos, imprecisos ou imprudentes. Não tivemos acesso a eles.

4) Há riscos dos prédios desabarem em Ipanema? Por que o Consórcio Rio Barra tem monitorado os prédios em Ipanema e os técnicos visitam os diversos prédios constantemente?

Nota de Correção:
Após a publicação do texto, recebemos diversos emails de pessoas ligadas à obra informando que a nova Estação General Osório está nove metros abaixo da atual Estação General Osório. Ou seja, ela está há 28 metros de profundidade. No entanto, o túnel que sai dela está em aclive até ficar a apenas 12 metros da superfície.

14 comentários:

  1. Miguel, parabéns pelo excelente texto, com certeza um dos melhores que eu já li sobre o metrô carioca (não apenas contando os do seu blog). Esse trabalho investigativo serve para preencher lacunas infelizmente deixadas pela nossa imprensa, sei que não é um trabalho simples, mas há de ser feito. Precisamos divulgar aos quatro cantos as trapalhadas do nosso metrô, tanto no duvidoso planejamento das expansões quanto na própria execução das obras. Se até então eu tinha a impressão de que pelo menos as obras contratadas eram bem feitas (independentemente de serem as obras "corretas" ou não), agora não posso confiar em mais nada...

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    1. Tive sorte de ter publicado isso cerca de 24 horas antes da calçada desabar em Ipanema.

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  2. Eu acho melhor não confimar mesmo, pois como vimos hoje um grande buraco abriu na Barão da Torre e a obra foi paralisada pela Defesa Civil. Seria bom investigar quem mandou diminuir a profundidade dos túneis.

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    1. Imagino que eles vão tentar abafar. Mas o desastre foi tão grande que O Globo foi obrigado a noticiar. E as rachaduras nos prédios continuam aparecendo e os moradores descendo às pressas para a rua no meio da madrugada.

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    2. Olá Miguel, boa tarde!

      Meu nome é Silvana, sou síndica de um Cond da Rua BT 144. Meu prédio fica dois a frente de onde ocorreram as crateras. Precisamos embargar esta obra, pois corremos o risco de nossas vidas e propriedades irem para o buraco (literalmente).. Ouvi dizer que continuarão com a obra... precisamos de ajuda!

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    3. A obra parece que vai continuar. Não li em nenhum lugar que ela vai parar.

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  3. Miguel sou morador e sub-sindico do predio Farroupilha na Rua Barao da Torre 144, bem em frente as crateras abertas na rua. Minha esposa foi autora das filmagens que apareceram nas reportagens da Rede Record, demonstrando todo o acidente grave antes que o Consorcio injetasse caminhoes de concreto. Gostaria muito que nos encotrasse, sobretudo com o nosso conselheiro Sr. Mario, engenheiro experiente e que tem sido um verdadeiro guerreiro em apontar todos os erros do Consorcio, mas sem sucesso. Precisamos unir forças para impedir que o descontrole continua imperando neste projeto e impedir eventuais perdas de vidas humanas. A maioria dos moradores continua na ignorancia e engano. Por isso que precisamos de pessoas com conhecimento como voce para reforçar a nossa voz e embargar esta obra até termos explicacoes serias e por escritopor parte do consorcio.
    Como poderíamos marcar um encontro nos próximos dias?

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  4. Parabéns pelo otimo trabalho em investigar e apontar falhas e questionamentos desse projeto do metrô. O consorcio diz estar tudo sob controle mas não foi isso que se viu nas imagens, engenheiros foram chamados às pressas e foram pegos de surpresa pois o buraco já havia sido tapado quando o chão cedeu e abriu a tal cratera. Unir forças e exigir transparencia sempre!

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    1. É verdade. Infelizmente o atual Governo e este consórcio nunca foram transparentes.

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  5. Olá! Hoje (20 de maio) o Consórcio do metrô deu a explicação das causas para o aparecimento das crateras (http://www.metrolinha4.com.br/). O filminho é ridículo, qualquer criança sabe que na natureza as forças não agem em linhas retas e paralelas, saindo em calçadas e entradas de prédios (e não só na rua, como alegaram), principalmente num evento "anômalo e pontual". Quanta coincidência que essa anomalidade não tenha acontecido entre um prédio e outro, ou eu algum outro lugar onde eles não tenham injetado a calda de cimento. Que historinha pra boi dormir! Precisamos fazer a ação cautelar, precisamos de um contraditório e de um monitoramento isento.

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    1. Adriana, o video no site Metro Linha 4 não explica diversas coisas:
      1) O tatuzão no video aparece em linha reta mas na verdade está em aclive.
      2) Não explica porque estão cavando tão próximo da superfície. Qual seria o impacto se estivessem fazendo o túnel a 40 metros?
      3) Sigo sem entender o que seria esta "anormalidade". Sinceramente, nem eles entenderam, pois o desenho no video sequer mostra isso enquanto o narrador explica o inexplicável.
      4) Este tatuzão é muito mais caro do que os comprados em São Paulo e Fortaleza justamente por ele poder trocar a máquina de corte de pedra para areia, o que teoricamente dispensaria a parede de concreto mostrada. Por que colocar a barreira de concreto?

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    2. Pois é, Miguel. Fiz, ironicamente, essa pergunta: "Se eu entendi direito, eles vão construir uma pseudo-rocha pra que o tatuzão possa funcionar em terreno arenoso?
      Não seria mais fácil RESPEITAR o traçado original que não passava pela beira da praia e não demandaria a brincadeira de "vamos fazer pedra pra furar?"
      Essa adaptação vai custar quanto a mais? Vai demorar quanto a mais?"
      Comprei um apartamento no 137 da Barão da Torre (o que teve o portão engolido pela cratera) em fevereiro, estou com obras para me mudar em breve e essas parcas explicações chegam a ofender. A Defesa Civil Municipal vai aceitar essa balela e permitir o reinício das escavações?
      Há implicações técnicas não esclarecidas; há incertezas sobre futuros eventos anômalos e há uma gastança de dinheiro não prevista que deve ser acompanhada pelos cidadãos! Temos 3 frentes para agir!

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