O acervo digital que o Globo disponibilizou recentemente
é muito útil para entendermos o porquê das coisas hoje em dia. Infelizmente,
a maioria das respostas que encontramos neste gigantesco acervo de história
explica o nosso atraso e o nosso fracasso e nos faz pensar: por que em Paris é assim? Por que
isso não acontece nos Estados Unidos?
História do Metrô do Rio de Janeiro
A
história do metrô do Rio de Janeiro é um bom exemplo para a questão. Em 1968, O Globo publicou o projeto definitivo
de construção das nossas linhas e estações. Na época, o Rio de Janeiro era a maior cidade do mundo
sem um sistema metroviário. Este projeto, já vinha com um atraso de quase 50
anos, pois foi nos anos 20 que se falou em construir um metrô na cidade pela
primeira vez. Nosso atraso não parou por aí: somente seis anos depois é que as
obras da Linha 1 começaram, em 1974.
Cinco Estações em 1979
A
parte prioritária da Linha 1 (Sãens Peña - General Osório) e um grande trecho da
Linha 2 (Pavuna - Carioca) eram para ter sido inaugurados no fim dos anos 1970. No entanto,
no dia da inauguração, em 05 de março de 1979, com a presença do então presidente da
república João Figueiredo, o metrô andou por apenas cinco estações da Linha 1.
Se
já havia uma grande demora na execução das obras, o pior veio nos anos 1980.
Apesar da inauguração de uma estação aqui, outra ali, os moradores de várias
partes da cidade conviveram durante anos com os buracos abertos pelo metrô sem
previsão de conclusão das obras. Lixo, ratos, insetos, mato tomaram conta das
obras metroviárias. As praças, antigas áreas de lazer dos moradores, foram aos
poucos abandonadas pelos próprios operários que não eram pagos. O metrô não
tinha dinheiro para concluir as Linhas 1 e 2. O estado do Rio de Janeiro, o BNDES e o Governo Federal
alegavam o mesmo. Promessas eram feitas, as obras começavam e logo depois eram
paradas por falta de recursos. Neste vai e vem, o Governo Estadual chegou até a
comprar um tatuzão para terminar a Linha 2. Só que esta super máquina que viria
para acelerar o ritmo das obras, após escavar cinco metros como teste, ficou adormecido quase um ano até
ser desmontado e repassado para outro metrô.
Sem Verbas para Expansão
Com o dinheiro chegando a conta-gotas, a Linha 1 ficou entre Botafogo e Sãens
Peña e a Linha 2 entre Pavuna e Estácio. Somente a partir do final dos anos 1990
é que a Linha 1 avançou para Copacabana e posteriormente para General Osório. A
Linha 2 ficou onde estava.
Em
2010, menos de um terço do planejamento original para o metrô fluminense tinha
sido construído após 42 anos desde o projeto definitivo. A Linha 1 deveria ser
uma enorme circular entre a Zona Oeste, Zona Norte, Centro e Zona Sul. Nem a
linha prioritária chegou a ser concluída. Botafogo deveria ter duas estações de
metrô e ficou com uma. Copacabana de cinco foi reduzida a três. A Estação Morro
de São João está semi-pronta e escondida dos usuários em Botafogo. A Linha
2 era para ligar São João de Meriti a Niterói. Parou na Estácio! Poucos se
lembram mas a Estação Carioca foi construída em três níveis justamente para
receber a continuação da Linha 2 mas o nível da Linha 2 jamais foi inaugurado,
pois o túnel do metrô jamais chegou lá. A Linha 3 seria construída entre Irajá
e o Recreio dos Bandeirantes. Esta nunca saiu do papel.
Apesar
do ritmo patético de construção do nosso metrô, de maneira geral se seguiu o
projeto original ao longo destas cinco décadas. Desde 2007, porém, o Governador
Sérgio Cabral Filho decidiu construir o metrô do jeito que queria. A construção
da Linha 1A direcionou os trens da Linha 2 para os trilhos da Linha 1, que
ficou superlotada. As estações Catumbi, Praça da Cruz Vermelha, Carioca e Praça
XV seguem aguardando serem construídas. A Linha 4, licitada em 1998 para ligar
Botafogo á Alvorada, foi alterada para ligar Ipanema ao Jardim Oceânico e deve
ficar pronta em 2015.
No
ano olímpico o metrô do Rio de Janeiro
será uma grande tripa, pois a Linha 2 desemboca na Linha 1 que seguirá em reta
para a Linha 4.
É Preciso Retomar o Projeto Original do Metrô
É
preciso urgentemente retomar o projeto original do metrô se quiserem pensar em
mobilidade urbana.
Não adianta a cidade ter hospitais, escolas, universidades, áreas de lazer,
arenas esportivas, etc se para chegar até elas é muito difícil, quase um
sacrifício. Neste contexto, é preciso construir o metrô em rede, com as linhas
se sobrepondo. Para tal, é preciso terminar a obra da Linha 2 e construir as
estações da Linha 4, como licitadas nos anos 1990.
Floriano
Lima, Chagas Freitas, Leonel Brizola, Moreira Franco, Nilo Batista, Marcello
Alencar, Anthony Garotinho, Benedita da Silva, Rosinha Garotinho e Sérgio
Cabral Filho são todos um pouco responsáveis por termos o metrô que temos.